13/07/2007

Semana temática II - Questões ao artista

Questões para o artista. Questões para o Effe.

Já te ouvi/li sufucientes vezes falar/escrever sobre o cérebro citando António Damásio, outras vezes citas Abel Salazar entre outros mais estou certa. Vejo trabalhos teus ligados à dissecação quase viva do corpo, à exploração dessas imagens de carne, sangue, matéria viva, influências que a composição interna do corpo tem sobre a acção exterior do mesmo (interpretações minhas claro).

Em que medida ligas o teu trabalho à ciência?
Usas a ciência no teu trabalho?
Fundes a ciência do corpo à emoção?

2 comentários:

clica no play disse...

:) tanta mas tanta coisa para te dizer deixa lá tentar ser sintético:)

desde o momento que existo, ou que penso existir, sinto-me um hipocondríaco sem me cansar ,dentro de uma normalidade por vezes saudável.(risos)
assim como se subentende utilizo sobretudo imagens físicas fornecidas pela ciência assim como alguma imagem "imaginada" sobre o mesmo assunto para acrescentar aos propósitos da minha realidade.
a minha realidade é sobretudo ter consciência que existo e sobretudo ter obrigação de saber porquê e como o faço. como é que existo e para que é que existo dentro de um invólucro chamado "corpo" . como vemos podemos sempre fic-cionar e adaptar a nossa realidade quer pelo místico do imperceptível como daquilo que vemos, no entanto, este surrealismo nunca é levado a ser entendido como algo que nunca aconteceu nem poderá existir. digamos que, ao sermos conscientes da grandeza como pequenez do corpo temos sabedoria mínima de o pensar como algo que é construído e ampliado com a consciência de tudo o que lhe é exterior. ( a mutação e o mimetismo)
evidente que "ligo" sempre o meu trabalho à ciência dado que trato de representar o meu corpo quer de forma mais ou menos explicita dentro do físico visível, como de representações ditas "metafóricas da chamada emoção" . se o corpo é algo concebido matematicamente ao pormenor para a realidade do nosso momento, os meus objectos, as coisas que vou rabiscando são por conseguinte ligações directas a mim e por conseguinte ainda ao meu corpo logo à ciência ainda que alterada e adaptada |À minha maneira.
consulto, procuro, questiono e dou trabalho a amigos médicos, enfermeiros e outros entendidos sobre patologias, interesses acerca de algumas disfunções e funções que se me vão deparando. em vez de guardar os relatórios codificados em linguagem técnica, transformo-os dentro das minhas condições em imagens "auto retractais" de um "mim" que também existe. se sou corpo , sou patológico. se represento o meu corpo , represento ciência. repetindo-me "à minha maneira".
a placenta, os exames médicos, o numero de tendões num braço, a anatomia em geral passando pelas patologias são deveras interesses ao elaboração de trabalhos, mais ou menos simpáticos.
aqui presumo que se possa deduzir que o emocional, como sendo elemento intrínseco a um corpo a uma parte de um todo físico"corpo" é também preocupação , ou não seria eu hipocondríaco.
evidente que por vezes e em resultado de alguns "objectos" que produzo, posso apelar muito ou pouco a uma consciência emocional de quem os vê. certo será dizer que isso é o que menos me preocupa. nada me faz parecer que há muita importância em apelar ao sentimento ou a qualquer emoção com o resultado dos trabalhos. sim, é coisa minha, uma espécie de auto retrato que vou construindo dentro de um narcisimo- segundo eu - consciente e coerente sem extremizar com o absolutismo e fundamentalismo que por vezes estas vertentes podem acarretar.
ainda sobre as emoções:
sem emoções seriamos vegetalmente voláteis que faria com que o nosso corpo não existisse. quando existe corpo existe emoção. (evidente que não falo aqui de corpos que patologicamente se reflectem como incapazes a tal trapezismo) quem me garante a mim que não são as emoções os motores fundamentais à existência de um corpo? pro conseguinte seria inapropriado dizer que não me rejo por emoções quer como corpo quer como "elaborador de coisas".
gosto da ciência, sou um apaixonado pela medicina, sou um venerador dos corpos.
já repararam como funciona uma mão? mexam o pulgar de encontro ao mendinho, vejam as linhas provocadas na palma da mão( todas sem sentido e com sentido), pensem como é que ,e porque é que ela obedeceu. o encaixe do braço no peito, o girar limitado de um cotovelo, as mamas das mulheres e a sua gravidade.é bonito, estão no sitio certo apesar de por vezes serem estereotipicamente "belas ou não" mas são bonitas. as pregas de gordura que caiem pelas ancas dos "gordos" são formas belas também. e as rugas?no sitio certo, estão lá.
tudo me agrada desde que ao corpo lhe pertença tal como as suas extensões, coisas essas das quais o corpo necessita ao seu melhor fundamento e sobrevivência. desde um simples gesso a um aparelho de dentes ou seja a que for é deveras uma prótese contudo interessante e pensada aquela parte do corpo disfuncional.
a manipulação do corpo é sem duvida a coisa que me arranca da cama. saber os pormenor de uma cirurgia, a que se deve e como se concretizou é de um interesse apaixonado. (falo de emoção)certamente.
por isso filmo e fotografo as intervenções que me são impostas ou sugeridas. é o meu corpo no momento e quero regista-lo como fase de um processo de crescimento deste meu todo.
sim, ainda guardo os dentes de leite dentro de uma caixa transparente, onde diz dentes do rui (7 anos).

Marta Pinto disse...

Por isso é que o teu trabalho é fascinante, porque se sente essa paixão do corpo físico interno e externo.

Respondeste a muito do que gostava de saber e ainda não te tinha perguntado. Estou encantada. Obrigada!