25/04/2008

Em dia de revolução

imagem retirada de fffound
...a revolução interior.
...em português, com o poema de António Gedeão:

Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos,
que em oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que foça através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara graga, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, paço de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

19/04/2008

Arte de rua

Terá o artista de rua mais liberdade do que o artista que expõe em galerias? É mais livre em espaço, em mente ... o que os distingue? Podem-se comparar desta forma?

Sempre que vejo o trabalho de um artista de rua (curioso é que vejo sobretudo online!) fico sempre com a sensação que existe uma maior liberdade na exposição do seu trabalho do que aquela tem o artista que aguarda por um espaço interior de galeria ou outro semelhante para expôr...

Como sempre alguma coisa despoleta a escrita dos posts, desta vez foi o trabalho de Jiar.

Os artistas têm a capacidade de nos emocionar e entusiasmar ... talvez com os trabalhos dos artistas de rua, fique com a sensação que também posso ter essa liberdade de expôr (dentro dos limites legais ... afinal limites há sempre) de intervir, de fazer interagir.

Há tempos o Wooster Collective tinha um post com um video que mostrava pessoas
que ao passarem na rua paravam e algumas interagiam com uma parede pintada por Banksy. Fiquei desde então a pensar no impacto que tem a arte de rua, na força que este espaço público tem na apresentação da obra do artista e no impacto que cria na vida do comum cidadão. Quando vejo uma parede pintada páro. Páro e observo, sinto e penso. Eu gosto de ver os azulejos nas paredes das estações de comboio, eu gosto de ver alguns graffitis nas paredes dos túneis das estações de comboio...

© Banksy

11/04/2008

Contemplar

Foi-me colocada a questão sobre a existência de vivência artística através do que acedemos online. Como acontece? É possível? O que dizer sobre esse tipo de vivência artística? Resumidamente, respondi: será um novo tipo de vivência artística que estará a surgir, possível, mas diferente da vivência artística que se tem quando se está fisicamente perante a obra de arte.

Hoje, em poucos minutos o dia ofereceu chuva e sol, vento frio e temperatura amena. Estive a contemplar o dia e o tempo, as nuvens, o céu, o sol, o jardim. Penso que não deverá ser possível "contemplar" sem estar fisicamente presente perante aquilo que se contempla. Não será possível contemplar a partir do virtual, do que está online. Pensei então na resposta que dei à questão sobre a possibilidade da vivência artística através da obra de arte à qual acedemos online, e fiquei na dúvida se terei respondido bem! Se é possível uma vivência artística, por que não a contemplação? ... estarei a pensar bem, quando penso que não é possível contemplar de forma virtual/online ... ? ...