26/07/2007

Semana Temática IV: Arte e sociedade

«Que se vença o mutismo entre as pessoas, que se supere o seu isolamento e o seu distanciamento.»

O reflexo de um sintoma actual: pergunto-me se uma ideia alargada daquilo que poderá significar arte poderá ser uma solução possível, e talvez até única, para o vazio que se sente entre nós: seres humanos.
Penso num vazio pessoal necessário, um espaço de reflexão, distinto do vazio que existe na sociedade e se faz sentir, de cada vez mais, entre as pessoas.

No livro de onde retirei a frase inicial do post, pode ler-se o registo de uma entrevista a Joseph Beuys (Cada Homem, Um Artista. 1972, p.82) onde o artista discursou sobre este tema. Em toda a conversa, a educação acaba por tornar-se a principal questão...

E como quem "vira o disco e toca o mesmo" será que podemos continuar a questionar a o papel da arte na sociedade?... Talvez como motivo de reflexão, individual e colectiva, poderá a arte ser uma mais valia para a autodeterminação do ser humano?

5 comentários:

Marta Pinto disse...

Se escrevesse este comentário ontém provavelmente tenderia mais a concordar, mas hoje o optimismo aguça o realismo;)

Não concordo quando dizes existir um vazio que sente entre os seres humanos.Penso que a arte é uma das razões para o "não vazio":
A arte de bem amar, a arte de bem comer;), a arte do cinema, a música, "Guernica", o "lago dos cisnes" em bailado clássico, a arte popular, ..., tudo isso contribui para a vontade de comunicação colectiva.

Penso que vençer o mutismo entre as pessoas, e superar o seu isolamento e o seu distanciamento, é um processo sempre a acontecer, quando cada Homem é o Artista da sua vida.

Sim, penso que a arte poderá ser uma mais valia para a autodeterminação do ser humano: contactar com "a arte" é sempre revigorante, ou porque nos emociona, ou porque nos surpreende ver que há quem tenha agido e criado algo original ... e isso incentiva-nos também a continuar e a acreditar que também "eu" posso criar. Logo a ter vontade de comunicar.

Isabel disse...

Claro! Mas não me parece que a escola, por exemplo, incentive muito essa vontade de comunicar que todos temos... e quando digo isto, também penso que não se trabalha muito a expressão artística nas escolas... E é aqui que entra a frase de Beuys e a ideia de que é preciso vencer o mutismo que existe entre as pessoas...

Marta Pinto disse...

A rotina quando se instala é prejudicial em qualquer profissão. Na de professor então, a rotina, o mutismo, o fazer mais do mesmo é ainda mais grave.
Mas da pouca experiência que tenho, tenho sentido que muitas pessoas que "viram o disco e tocam o mesmo" estão disponíveis para de vez em quando mudar de disco.
Para ser breve e simples num exemplo: O Museu de Serralves comunica com o público, mesmo aquele que não vai ao museu, na minha opinião Serralves contagiou muita gente pela positiva comunicação.
Vivemos em sociedade, todos temos responsabilidade de comunicar sem esperar nada de imediato em troca.
Dou outro exemplo: no 1º ano que fiquei colocada pensei que podia ter feito muito mais em termos de propostas de novas experiências plásticas para os alunos... em anos seguintes apercebi-me que ao fazer as coisas com entusiasmo/rigor/inovação/gosto acabava por conseguir comunicar com os meus colegas mesmo que só no final do ano lectivo eles comunicassem comigo...
É um processo moroso, mas se todos assumirmos a responsabilidade activa de comunicar agindo, consegue-se vencer o mutismo que existe entre as pessoas...

Isabel disse...

Acredito que sim temos que ser persistentes como tu ;)... e como nos exemplos que deste marta. É muito importante repensar a vida em comunidade partindo da experiência artística...hum... e há que ter a responsabilidade de comunicar com o "nosso vizinho"? ...

Marta Pinto disse...

Claro que nos exemplos que dei em cima, tratavam-se de colegas menos comunicativos, menores em número do que os colegas comunicativos, com quem aprendi muito e que me "contagiaram" pela sua positiva comunicação.